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domingo, 17 de abril de 2016

Aprendendo o meu lugar

             Orra essa faz miliano e veio em minha memória apenas agora. Ainda na infância, minha coroa conseguiu me matricular em uma escola pública central. Onde a maioria do período da manha era filho da burguesia, do morro até lá dava uns três quilômetros na sola. E criança tem aquela inocência de não entender muito bem o mundo dos adultos, principalmente as maldades.
            Tinha um colega de sala que era muito mais rico que os demais. Um dia me convidou pra colar na sua casa, ou melhor, seu castelo. De bobeira em um sabadão colei no casarão fincado no centro da cidade, naquele naipe: Chinelo havaianas, bermudinha surrada e camisa esfolada ganhada da patroa tia. Ali conheci um mundo distante do meu, dezenas de cômodos a se perder de vista. Todos, mas todos os brinquedos que eu via nas propagandas da TV, o Júlio era gente fina, também não entendia o egoísmo dos adultos.
          Ele deixava brincar com todos os brinquedos e ali passávamos horas criando batalhas imaginárias que nem percebíamos o tempo passar. Recordo de levar um matchbox – aqueles carrinhos de metal gringos que vinha em uma caixinha de papel- todo zuado, porém mais ligeiro que os centenas da coleção dele. Rolava aquela desconfiança de que eu poderia ser mão leve. E antes de guardarmos, os brinquedos eram severamente conferidos.  - Crianças venham tomar café! A empregada me viu colocar um carrinho no bolso e logo caguetou pra patroa. – Menino me deixa ver o que você tem no bolso? Se você quiser algo é só pedir, é feio fazer isso. Logo desandei a chorar sem parar, sinistro com a mão no bolso, sem soltar uma palavra. – Mamãe me deixa explicar: Ele não roubou nada, o que esta no bolso dele é o carrinho mais veloz de todos, é dele e ele me empresta para brincar. 


            Putz ai ficou aquele climão tenso e constrangedor demais. – Come mais, olha tem geleia, suco, torrada, bolo, refrigerante, doce, pipoca. – Não quero nada! Quero ir embora. – Então vamos jogar videogame? Andar de Bis’creta? Assistir vídeo cassete? Cai na real que ali não era o meu lugar, que não deveria mais voltar. Ofereceram até carona de volta, talvez para amenizar a mancada e tirar o peso da consciência por desconfiar da inocência de uma pobre criança.
            - Vou nessa, agenti si vê na escola. Deu’zica e aqui não colo mais! Fica com o carrinho pra você. Lá no morro nóis joga bola com golzinho de chinelo, taco, balança caixão, peão, pique esconde, bolinha de gude, bate figurinha, esconde-esconde, mãe da rua, telefone sem fio, passa anel, pega-pega, soltar pipa, peteca, pula sela, pular corda, queimada mais uma pá de brincadeira. Fica de barriga vazia, mas nenhuma tia dá geral pensando que nóis é ladrão. Falô ai, Valeu.

Joey é escritor autodidata.

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