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sábado, 27 de agosto de 2016

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Orelha Seca

Após sete anos trampando na construção civil como orelha seca ele descolou um trampo numa loja de materiais para construção. Ali labutava das 07hr30 às 18hr00 e aos sábados das 07hr30 às 13hr00. As 06hr00 levantava-se e com sua barra circular pedalava meia hora do bairro suburbano até o centro da cidade.
Em pouco tempo aprendeu os vinte mil itens da loja e vendia mais do que funcionários com dez anos de casa. Conseguiu comprar uma jogue a óleo dois tempos, apelidada de SUCEM e fez rolo em um FIAT 147. Percebia que o patrão sonegava impostos, não pagava as horas extras e nem folgas do banco de horas. Com o pouco que ganhava pagava suas contas e o restante comprava livros, sonhava em cursar uma universidade pública.
Foi seu primeiro emprego com carteira assinada, o que enchia a família de orgulho. Trabalhar na sombra com roupa limpa era para poucos. Com um ano de trampo e férias vencidas, pediu um dia de folga, mas o diálogo não foi nada amistoso. Ouviu a seco do patrão:
- Quem manda aqui é eu e te dou as férias quando eu quiser e bem entender.
- Amanhã não venho.
- Te mando embora!
- Firmeza. Você pode mandar nos seus funcionários, mas não é dono da minha vida.
Demitido e com sorriso no rosto, voltou a trabalhar na construção civil e na sequencia na concorrência. Voltou a estudar e passou no vestibular, mudou de cidade, formou-se historiador e professor. Hoje leciona na rede pública do Estado de São Paulo. Seu ex-patrão continua a construir um império em cima da ilegalidade e explorando jovens na mesma cidade, que o orelha seca não sente saudade.


Joey é escritor autodidata

domingo, 17 de abril de 2016

Aprendendo o meu lugar

             Orra essa faz miliano e veio em minha memória apenas agora. Ainda na infância, minha coroa conseguiu me matricular em uma escola pública central. Onde a maioria do período da manha era filho da burguesia, do morro até lá dava uns três quilômetros na sola. E criança tem aquela inocência de não entender muito bem o mundo dos adultos, principalmente as maldades.
            Tinha um colega de sala que era muito mais rico que os demais. Um dia me convidou pra colar na sua casa, ou melhor, seu castelo. De bobeira em um sabadão colei no casarão fincado no centro da cidade, naquele naipe: Chinelo havaianas, bermudinha surrada e camisa esfolada ganhada da patroa tia. Ali conheci um mundo distante do meu, dezenas de cômodos a se perder de vista. Todos, mas todos os brinquedos que eu via nas propagandas da TV, o Júlio era gente fina, também não entendia o egoísmo dos adultos.
          Ele deixava brincar com todos os brinquedos e ali passávamos horas criando batalhas imaginárias que nem percebíamos o tempo passar. Recordo de levar um matchbox – aqueles carrinhos de metal gringos que vinha em uma caixinha de papel- todo zuado, porém mais ligeiro que os centenas da coleção dele. Rolava aquela desconfiança de que eu poderia ser mão leve. E antes de guardarmos, os brinquedos eram severamente conferidos.  - Crianças venham tomar café! A empregada me viu colocar um carrinho no bolso e logo caguetou pra patroa. – Menino me deixa ver o que você tem no bolso? Se você quiser algo é só pedir, é feio fazer isso. Logo desandei a chorar sem parar, sinistro com a mão no bolso, sem soltar uma palavra. – Mamãe me deixa explicar: Ele não roubou nada, o que esta no bolso dele é o carrinho mais veloz de todos, é dele e ele me empresta para brincar. 


            Putz ai ficou aquele climão tenso e constrangedor demais. – Come mais, olha tem geleia, suco, torrada, bolo, refrigerante, doce, pipoca. – Não quero nada! Quero ir embora. – Então vamos jogar videogame? Andar de Bis’creta? Assistir vídeo cassete? Cai na real que ali não era o meu lugar, que não deveria mais voltar. Ofereceram até carona de volta, talvez para amenizar a mancada e tirar o peso da consciência por desconfiar da inocência de uma pobre criança.
            - Vou nessa, agenti si vê na escola. Deu’zica e aqui não colo mais! Fica com o carrinho pra você. Lá no morro nóis joga bola com golzinho de chinelo, taco, balança caixão, peão, pique esconde, bolinha de gude, bate figurinha, esconde-esconde, mãe da rua, telefone sem fio, passa anel, pega-pega, soltar pipa, peteca, pula sela, pular corda, queimada mais uma pá de brincadeira. Fica de barriga vazia, mas nenhuma tia dá geral pensando que nóis é ladrão. Falô ai, Valeu.

Joey é escritor autodidata.

sábado, 2 de abril de 2016

Conto nada erótico periférico.

No boteco tomando uma breja barata e vendo futebol na TV. Percebe ela passar trajada, indo ao culto. A troca de olhares descompromissado, porém carregado de vontades.
            - Te encontro depois das oito. O sim veio com um sorriso de canto de boca.
            Não existe a palavra amor e isento de sentimento ou pudor é palavrão atrelado a tesão. Não havia colchão, mas sim papelão, o travesseiro era saco de cimento. Apenas sexo sem sentimento, nenhum dos dois ciumentos.
            Deitados sob o concreto fluía o amor liquido. Distante de qualquer relação sólida, os orgasmos desmancharam-se no ar. O corpo nu a luz da lua era o colírio para afastar o pó do cimento a cada movimento.
            O silencio quebrado com sussurros e gemidos, porém nenhuma promessa de amor eterno, namoro, noivado ou casamento. Medidas incalculáveis de carinho, também gemidos reprimidos. Mordidas, chupadas, roupas intimas rasgadas, beijos molhados, unhadas, puxões de cabelo e tapas. Quase um vale tudo, o oferecer o prazer a alguém sem olhar quem.
            A mistura perfeita para a satisfação sexual e quem sabe espantar a solidão. A personificação do sexo descapitalizado, sem custos, apenas energia física e vontade, excitação e sedução. O carnal quase animalesco, onde ambos saem de si e se entregam ao outro alheio.
            Eis o sexo inseguro, atrás do muro. Ela confia na tabelinha e ele no coito. O encontro às oito onde as ultimas palavras trocadas foram:
            - Vamos! Você mora longe pra caralho, tenho de ti levar e voltar a pé. E amanha vou trabalhar cedo.
            - Vai tomar no seu cú, seu porra. Olha a minha roupa toda suja, o que vão pensar? O que vou dizer lá em casa?
            Quarta que vem tem futebol na TV e culto na igreja. E no mesmo horário vão encontrar-se, para a construção vão voltar e reciprocamente as vontades carnais saciar!

Joey é escritor autodidata.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Zanga do conservatório

          De rolê com um mano que acabara de conhecer, voltando de uma festa veio a acontecer. Enquadrado pela patrulha rodoviária, pacoteira em cima, rodou como tráfico e assim iniciou-se a sina. Foi assim de bobeira que entrou para o conservatório musical na cela insalubre que dividia com diversos detentos. Conviveu com a diversidade criminal, escreveu uma carta para a mãe, mas a primeira visita foi do pai. Uma cota sem ver a família e trombar os parças,  contato só por cartas, isolado, trancado em um túmulo de concreto ao céu aberto.
         Queria realmente mudar, não mofar, de lá se jogar e se possível nunca mais voltar. A rotina interminável de um lugar onde as horas pareciam rastejar, de manhã depois de pagar o banho gelado, um cliver acesso com o bic emprestado, seguido de um chá de urubu requentado, rango azedo era reciclado, uma sesta pra desbaratinar e como chinfra o futebol, finalizando um trago no fininho do índio para relaxar.
         A mãe dizia que o filho foi pras”oropa estudar e trabalhar, na Alemanha foi morar e que iria demorar para voltar. Por três anos passou mó veneno na tranca, não foi fácil mas tirou de letra, estudou o código penal e de lá saiu mestre em violão clássico. Tocando Bach, Beethoven, Villa-Lobos, João Pernambuco. Hoje toca em uma orquestra de violões.
          Sinistro por não descolar trampo devido à capivara que constava ex-presidiário. Como muitos, dá os corres com aulas particulares de violão e guitarra na quebrada, poderia ter saído pós-graduado no crime. Porém escolheu conhecer-se e a vida recomeçar, distante de lá. Para onde nem em sonho quer mais voltar.
         Pagou o que devia e segue a vida distante de tretas. Até hoje luta para não se entregar aos vícios das esquinas. Miliano que não trombo o Zanga, saudades parça das antigas. Com ele muito aprendi, principalmente que a redenção é possível. Pena que a sociedade não tivera a oportunidade de conhecê-lo e quem sabe isso também aprender.



         Joey é escritor autodidata.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Ícaro em chamas!

Com mãe, irmã e pai encarcerados. Seu pai não era tão criativo e habilidoso, tanto que agora vivia em meio a labirintos de grades. Bem cedo Ícaro criou asas para o crime e com 12 anos de idade saiu do orfanado e caiu direto na Fundação Casa.  Quando a liberdade cantou bateu asas de lá e viemos a nos encontrar.
            Um dia em uma oficina de arte para ressocialização de menores em liberdade assistida, estávamos transformando materiais reciclados em instrumentos musicais. Um grupo de seis pessoas, eis que surge Ícaro com menos de um metro e sessenta, franzino e de uma arrogância e prepotência sem limites.
            - Vô fazer nada nessa porra. Quero ver quem vai me obrigar!
            Estava bicudo de farinha e pagando de herói para se auto afirmar aos demais, só não esperava que os moleques conhecessem sua caminhada, assim como eu tinha a capivara de todos eles. – Então ninguém tá te obrigando a fazer nada, muito menos estar aqui. Se não tá a fim de pagar o que deve. Levanta o pano de bunda e sai vazado. Até porque tô aqui pra livrar a cara de vocês e defender o meu e não sustentar conversinha torta.
            - Você sabe o que um menor pode fazer com este estilete na mão tio? Tem amor na vida não?
            - Então imagina um pirógrafo queimando, furando seu tímpano. Vai cair e sangrar até a morte. Justifico legitima defesa, não vai ter ninguém chorando no velório.
             Após rizadas intermináveis um dos moleques lançaram: - Aê encosta no sapatinho, quer chegar chegando na banca. O Jhow tá livrando a nossa cara morô. Vem querendo tumultuar, escutou o que não quer agora fica em choque e chora.
            Pagava de ladrão com treze anos de idade, que tinha armas e rodou por 157. Mas a real que agrediu menor e funcionários do orfanado e depois rodou de aviãozinho na biqueira. Até no crime a mentira tem pernas curtas e tava pagando de comédia ali. Ameaçou jogar cadeiras e tumultuar a oficina, chamando atenção dos funcionários. Até que Caim: - Aê menor segura o reggae! Tá pensando que isso aqui é o que? Não conhece ninguém e vem querer crescer! Baixa a bola ou te passamos lá fora.
            E assim Ícaro derramando lágrimas partiu em chamas. Morrendo de vontade de me matar. E a oficina continuei a ministrar. Aprendi na prática o ditado popular português. “Não se dá água a cavalo que não tem sede”. Assim como não se ensina quem não quer aprender.





Joey é escritor Autodidata

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Aos filhos

A filha do agricultor
Hoje tem aula com doutor
O filho do marceneiro
Vai ser formar em engenharia
E matar a família de alegria
O filho do caminhoneiro
Também vai se tornar engenheiro
A neta criada pela avó
Passou em primeiro lugar na UFSCAR
O filho da doméstica solteira
Passou em medicina
Bateu assas e foi pro México.
O filho da enfermeira se tornou professor
A ex cozinheira não desistia
Hoje e formada em pedagogia
Quanto filho de trabalhador
Se formando doutor
Quantas aulas deixaram de matar!
 Se mataram de estudar
Em cursinho popular
 E tiveram que provar
Que universidade é lugar
Da classe popular.                                                


Joey é escritor autodidata