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terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Cadê o rango dos menor?

Ocorria uma onda de assaltos à mão armada que assolava uma cidade interiorana há semanas. Empresários, lojistas e a população estavam em pânico, este anunciado em jornais, televisão, rádio e internet.
            - Eu e meu primo – cheio de B.Os pra resolver – nóis tava tirando um lazer no corguinho no meio da cana. Sabe refrescar e fumar unzinho. Chupando uma cana de leve e do nada aparece os cana.
            - Mão na cabeça os dois. Nem pensa em correr que é flagrante dos brabo!
            Acompanhando os cana estava uma suposta vítima, um senhorzinho caduco que pouco enxergava e ouvia menos ainda. E assim meteram o grampo em Leléo e seu primo arrasta B.O. Até uma arma apareceu para formalizar o flagrante, e com reconhecimento da vítima fora consumado que dos 16 para os 17 anos o muleke da quebrada teria um novo endereço distante da casa cheio de reciclados na porta.
            - Cê é loko jão! Logo me mandaram pra um CDP de menor em uma cidade vizinha, três dias esperando vaga pra ser transferido. Demorou pra caralho pra sair porque a viatura tava zuada, quando saiu foi à milhão, cara corria mais que piloto de fuga e sem contar que não freava em uma lombada. Pra fuder o resto, no meio do caminho furou dois pneus, pô logo dois, puta azar da porra. Dois pneus e duas horas no sol em frente à borracharia do posto de gasolina.
            Ao chegar à Fundação Casa de Osasco a 200 km de sua goma, já tinha passado o horário do jantar e as luzes já estavam apagadas. Dormiu com fome, mas perto do medo, solidão, desamparo, insegurança e uma infinidade de sentimentos que se aproximava nos próximos meses, a fome não era nada.
            - Lá era cabeça baixa. Sim Sinhô! E Pouco não Sinhô! Se olhava para cima era soco na cara, usar cueca azul coletiva a Corujinha, pegar pereba na bunda e o remédio era talco de pé jogado pelos carcereiros. Até pra bater uma tinha de pedir licença pros parsas de cela, para demorar no banheiro. Falar com a família só por telefone uma vez por semana e cinco minutos. Cê é loko quero isso mais não jão!
            No CREAS Leléo passava por psicóloga, assistente social e participava de oficinas culturais duas vezes por semana, como parte do acompanhamento do processo de liberdade assistida.
            - Agora voltei a estudar. Nuss cê fala que saiu da FEBEM, chove de novinha em cima.
            Leléo das novinha colava nas oficinas com uma barra forte que o pai usava para recolher reciclados, a chamava de hornet. E nas longas tardes quentes de conversas intermináveis quando o café tardava, ele logo gritava.
            - Oh cadê o rango dos menor?
            Assim Leléo das novinha engravidara a primeira que encontrara ao sair da fundação casa. Outro dia nos encontramos por acaso em um destes botecos de copo sujo e cerveja gelada.

            - E ae Jhow locão! Como tá a caminhada? Eu paguei o que devia, nasceu meu neguinho e tô trampando de pintor. Juntando uma grana para comprar um fuscão. Vou nessa amanha tenho de acordar cedo.                                                                                                          
                                                                                                                                                                                                                                                                                             Joey é escritor autodidata.

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