Ocorria uma onda de
assaltos à mão armada que assolava uma cidade interiorana há semanas.
Empresários, lojistas e a população estavam em pânico, este anunciado em
jornais, televisão, rádio e internet.
- Eu e meu primo – cheio de B.Os pra resolver – nóis tava
tirando um lazer no corguinho no meio da cana. Sabe refrescar e fumar unzinho.
Chupando uma cana de leve e do nada aparece os cana.
- Mão na cabeça os dois. Nem pensa em correr que é
flagrante dos brabo!
Acompanhando os cana estava uma suposta vítima, um
senhorzinho caduco que pouco enxergava e ouvia menos ainda. E assim meteram o
grampo em Leléo e seu primo arrasta B.O. Até uma arma apareceu para formalizar
o flagrante, e com reconhecimento da vítima fora consumado que dos 16 para os
17 anos o muleke da quebrada teria um novo endereço distante da casa cheio de
reciclados na porta.
- Cê é loko jão! Logo me mandaram pra um CDP de menor em
uma cidade vizinha, três dias esperando vaga pra ser transferido. Demorou pra
caralho pra sair porque a viatura tava zuada, quando saiu foi à milhão, cara
corria mais que piloto de fuga e sem contar que não freava em uma lombada. Pra
fuder o resto, no meio do caminho furou dois pneus, pô logo dois, puta azar da
porra. Dois pneus e duas horas no sol em frente à borracharia do posto de
gasolina.
Ao chegar à Fundação Casa de Osasco a 200 km de sua goma,
já tinha passado o horário do jantar e as luzes já estavam apagadas. Dormiu com
fome, mas perto do medo, solidão, desamparo, insegurança e uma infinidade de
sentimentos que se aproximava nos próximos meses, a fome não era nada.
- Lá era cabeça baixa. Sim Sinhô! E Pouco não Sinhô! Se
olhava para cima era soco na cara, usar cueca azul coletiva a Corujinha, pegar
pereba na bunda e o remédio era talco de pé jogado pelos carcereiros. Até pra
bater uma tinha de pedir licença pros parsas de cela, para demorar no banheiro.
Falar com a família só por telefone uma vez por semana e cinco minutos. Cê é
loko quero isso mais não jão!
No CREAS Leléo passava por psicóloga, assistente social e
participava de oficinas culturais duas vezes por semana, como parte do
acompanhamento do processo de liberdade assistida.
- Agora voltei a estudar. Nuss cê fala que saiu da FEBEM,
chove de novinha em cima.
Leléo das novinha colava nas oficinas com uma barra forte
que o pai usava para recolher reciclados, a chamava de hornet. E nas longas
tardes quentes de conversas intermináveis quando o café tardava, ele logo
gritava.
- Oh cadê o rango dos menor?
Assim Leléo das novinha engravidara a primeira que
encontrara ao sair da fundação casa. Outro dia nos encontramos por acaso em um
destes botecos de copo sujo e cerveja gelada.
- E ae Jhow locão! Como tá a caminhada? Eu paguei o que
devia, nasceu meu neguinho e tô trampando de pintor. Juntando uma grana para
comprar um fuscão. Vou nessa amanha tenho de acordar cedo.
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