Para elucidar um tema tão evitado por alguns e que aguça a curiosidade de outros se faz necessário senso acadêmico isento de julgamentos de valores como já escrevera Webber.
Até em meados do século XIX, conforme retratados em centenas de fontes primárias – cartas e diários de viajantes europeus que por aqui estiveram – era praticamente impossível a contratação de mão-de-obra assalariada no Brasil colônia. Cabendo assim inevitavelmente o comércio de escravos negros africanos para realizar todo e qualquer tipo de tarefa: Animal de transporte, lavrador, cozinheiro, tratador de animais, caçador de animais, alfaiate, carregador, fabricante de água ardente e açúcar; em suma todos os trabalhos eram realizados por escravos.
Revisando a literatura descrita por Três memorialistas pude perceber: Que em Mococa não ocorrera de forma diferente. No principio da povoação os braços que desbravaram a mata atlântica, foram dos escravos sob a supervisão de seus proprietários. Assim consta na obra de Queiróz, escrita no final do século XIX. Já Freitas na primeira metade do século XX também menciona a escravidão. Enquanto Paladini no final do século XX e inicio do XXI - não re refere ao tema escravidão- em uma tentativa de agradar as elites conservadoras e procurando construir a imagem de uma cidade que não existiu escravidão.
Ao descobrir vestígios e traços deste passado - escondido por uns e esquecido por outros – me dediquei a pesquisa de historiador curioso para decifrá-los. Encontrando assim nos livros do cartório de notas do período de 1872 a 1888, ano este da abolição da escravatura. Centenas de cartas de compra, venda e empréstimo de escravos, assim como cartas de alforria. O Museu Histórico Pedagógico Marquês de Três Rios possui em seu acervo objetos que pertenciam às senzalas das fazendas da região.
Sendo assim, como negar um fato tão latente para a fundação da cidade? Segundo a obra de Queiróz em 1888 a cidade de Mococa possuía 1.000 escravos. Já o senso de 1892, ou seja, quatro anos após a abolição, a cidade possuía 3.000 negros. Deixando entender quem além dos 1.000 escravos existira uma população negra de mais 2.000 negros livres. Existe evidencias através de relatos de história Oral, que o Distrito de São Benedito das Areias e a zona rural onde hoje é conhecido como “Guardinha”, tenham sido Quilombos. Vale ainda salientar que São Benedito é um santo padroeiro dos negros.
Agora quanto à origem dos escravos que por aqui viveram, esta é um tanto quanto controversa. Pois a falta de documentos históricos nos impossibilita elucidar tais respostas, sem arriscar cometer anacronismo, que segundo Hobsbawn é o maior pecado que um historiador pode cometer. Muito provavelmente sejam oriundos das minas de minérios da Região conhecida como Villa Rica, hoje atual Ouro Preto e Mariana. Pois após a “era do ouro” os escravos foram readaptados nos cafezais da “era do café”, conforme conceitua o historiador Capistrano.
As elites cafeeiras em uma tentativa de “Embranquecer” a cidade e a tornar espelho da Europa e não da áfrica. Na ultima década do século XIX e nas subseqüentes duas primeiras décadas do século XX foram trazidos cerca de 3.000 mil imigrantes italianos e em um montante total de imigrantes europeus que somados passariam de 6.000.
Fora da flora civilizatória regada ao suor de escravos que se consolidou a fundação da cidade de Mococa e este fato jamais deve ser ocultado.
Bibliografia:
FREITAS, Edgar. Mococa 100 de História, 1847-1947.Mococa,Gráfica Costal,1947.
QUEIRÓZ, Humberto de. A Mococa, de sua fundação até 1900. São Paulo: Tyo. Diário oficial, 1913.
PALADINI, Carlos Alberto. Assim nasceu Mococa. São Paulo, Editora Alfa e Omega, 2009.
Gustavo de Souza Pinto
(Bacharel, licenciado e Pós-graduado em História. UNESP-Franca)
http://lattes.cnpq.br/6467391538040938
Contato: clioprojetosculturais@gmail.com
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