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quinta-feira, 14 de julho de 2016

Orelha Seca

Após sete anos trampando na construção civil como orelha seca ele descolou um trampo numa loja de materiais para construção. Ali labutava das 07hr30 às 18hr00 e aos sábados das 07hr30 às 13hr00. As 06hr00 levantava-se e com sua barra circular pedalava meia hora do bairro suburbano até o centro da cidade.
Em pouco tempo aprendeu os vinte mil itens da loja e vendia mais do que funcionários com dez anos de casa. Conseguiu comprar uma jogue a óleo dois tempos, apelidada de SUCEM e fez rolo em um FIAT 147. Percebia que o patrão sonegava impostos, não pagava as horas extras e nem folgas do banco de horas. Com o pouco que ganhava pagava suas contas e o restante comprava livros, sonhava em cursar uma universidade pública.
Foi seu primeiro emprego com carteira assinada, o que enchia a família de orgulho. Trabalhar na sombra com roupa limpa era para poucos. Com um ano de trampo e férias vencidas, pediu um dia de folga, mas o diálogo não foi nada amistoso. Ouviu a seco do patrão:
- Quem manda aqui é eu e te dou as férias quando eu quiser e bem entender.
- Amanhã não venho.
- Te mando embora!
- Firmeza. Você pode mandar nos seus funcionários, mas não é dono da minha vida.
Demitido e com sorriso no rosto, voltou a trabalhar na construção civil e na sequencia na concorrência. Voltou a estudar e passou no vestibular, mudou de cidade, formou-se historiador e professor. Hoje leciona na rede pública do Estado de São Paulo. Seu ex-patrão continua a construir um império em cima da ilegalidade e explorando jovens na mesma cidade, que o orelha seca não sente saudade.


Joey é escritor autodidata

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