Após sete anos
trampando na construção civil como orelha seca ele descolou um trampo numa loja
de materiais para construção. Ali labutava das 07hr30 às 18hr00 e aos sábados
das 07hr30 às 13hr00. As 06hr00 levantava-se e com sua barra circular pedalava
meia hora do bairro suburbano até o centro da cidade.
Em pouco tempo
aprendeu os vinte mil itens da loja e vendia mais do que funcionários com dez
anos de casa. Conseguiu comprar uma jogue a óleo dois tempos, apelidada de
SUCEM e fez rolo em um FIAT 147. Percebia que o patrão sonegava impostos, não
pagava as horas extras e nem folgas do banco de horas. Com o pouco que ganhava
pagava suas contas e o restante comprava livros, sonhava em cursar uma
universidade pública.
Foi seu primeiro
emprego com carteira assinada, o que enchia a família de orgulho. Trabalhar na
sombra com roupa limpa era para poucos. Com um ano de trampo e férias vencidas,
pediu um dia de folga, mas o diálogo não foi nada amistoso. Ouviu a seco do
patrão:
- Quem manda
aqui é eu e te dou as férias quando eu quiser e bem entender.
- Amanhã não
venho.
- Te mando
embora!
- Firmeza. Você
pode mandar nos seus funcionários, mas não é dono da minha vida.
Demitido e com
sorriso no rosto, voltou a trabalhar na construção civil e na sequencia na
concorrência. Voltou a estudar e passou no vestibular, mudou de cidade,
formou-se historiador e professor. Hoje leciona na rede pública do Estado de
São Paulo. Seu ex-patrão continua a construir um império em cima da ilegalidade
e explorando jovens na mesma cidade, que o orelha seca não sente saudade.
Joey é escritor
autodidata
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