Após gerar certo desconforto e porque não
determinada polemica, volto com os escritos de quatro mil caracteres sobre o
cotidiano vivenciado nos ambientes undergrounds interioranos do estado de São
Paulo. Desta vez não apenas como gestor de eventos e representante de selo
& distro; mas dividindo o palco com outras bandas.
Bastaram sete meses para participar de 12 eventos
nos mais distintos lugares, praças, Pubs. Bares, sedes de moto club, republicas
e quadras. Revendo amigos, conquistando outros no decorrer dos quilômetros
deixados para trás e posteriormente adicionados em redes sociais para estreitar
ainda mais relações de reciproco respeito. Porém ainda nos deparamos com muito
sentimento de egoísmo no sentido de algumas pessoas interpretarem o movimento underground
e ou o que rotulam de cena como uma espécie de competição e ou jogo.
E como funcionaria isso? Sai na frente quem for o
mais envolvido e possuir os melhores “contatos”. Como já supramencionado no
escrito anterior, mais uma vez as relações de interesses sobrepõem as relações
humanas, a coisificação da arte. Porém a mesquinharia não para por ai, ganha
mais pontos quem tocar com bandas consideradas mais “reconhecidas” e se sua
banda tocar em uma cidade mais distante e ou em outro estado é bônus na contagem
de estar sempre à frente e nunca no mesmo patamar das demais bandas. Se tiver
uma resenha em um zine e ou revista especializada sua banda passa de fase. Se
prensar algo em vinil então é o ápice orgástico independente. Só não consigo
entender o final do jogo e qual o maior premio de boçalidade a ser entregue a
seres que buscam o troféu torpe do ano.
Outro fato que me impressionou além do espirito de
competitividade que cai por terra perante a autogestão e cooperação que
vivencio em outros ambientes. Vem a ser a falta de escrúpulos perante as
determinadas situações em eventos: Não é falta de bom senso e sim falta de
consideração mesmo. Presenciar algumas bandas tocarem com equipamentos
precários e deixar os seus confinados, enquanto poderiam ser compartilhados e
socializados entre todas as bandas que a principio dividem o mesmo palco. Pena
que na mente de pessoas mesquinhas, não funciona a prática comunitária. Obvio
que ninguém é obrigado a emprestar nada ao próximo. Mas em eventos ditos
alternativos costumavam funcionar desta forma.
Participando de festivais que envolviam diversas
bandas às vezes mais de 10 e em eventos menores com quatro ou mais bandas, tive
o desprazer nostálgico de vivenciar o retrógrado argumento do “escolher a ordem
que quer tocar”, não toco por ultimo por “X” motivo, assim como não toco
primeiro por “Y” motivo, minha banda tem mais tempo de estrada e temos de tocar
antes ou depois da banda principal. Confesso que no sorteio e ou na escolha da
ordem de apresentação, na maioria das vezes entro mudo e saio calado, sou o
ultimo a opinar e para não gerar mais desconforto deixo os egoístas, invejosos,
ciumentos e mesquinhos decidirem. Aprendi que não vale apena me desgastar por
algo que me parece ser hegemônico e estar instaurado na maioria dos lugares que
compareci para tocar.
Concomitante a toda esta problemática que não é por
menos de vivendo e aprendendo que a história é responsável por nos demonstrar
que com o passar do tempo algumas coisas são modificadas graças às relações
humanas, enquanto outras são degradas graças a este mesmo processo dialético. E
assim findamos mais um ano e que venha os próximos repletos de surpresas assim
como decepções constantes. A cena ainda é algo que vale apena. Cito as palavras
de um profundo pensador. “Mudar é difícil, mas é possível” Paulo Freire.
Por: Joey, é escritor autodidata.
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