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sábado, 19 de dezembro de 2015

Ninguém em terra de ninguém!

            O dito popular afirma que pobre nunca tem nada e quando chove perde tudo. Seria cômico se não fosse trágico. Para quem nunca teve nada o pouco passa a ser tudo, literalmente tudo. Tudo parcelado em carnês, tudo pago honestamente, tudo isso pelo dobro do valor a vista. Tudo que era para o pouco conforto, agora esta perdido.
            - Tudo que o pobre tem são os dentes e o nome.
            Então entra em cena o ninguém. Ninguém viu o incêndio criminoso para higienizar a favela ao lado do condomínio de luxo. Ninguém percebeu os barracos arderem em chamas e transformar o sonho da moradia em cinzas. Assim como ninguém vai ressarcir os danos causados pelo incêndio ou pela enchente.
             Quem nunca teve nada, perdeu o pouco que conquistou com muita luta. Agora não tem nem ao menos documentos e sem RG, CPF, carteira de trabalho, certidão de nascimento, PIS/PASEP e titulo de eleitor, não é cidadão e se torna ninguém.
            Aqui todos estão acostumados a perder. Perder amigos, perder tempo, perder o sono, perder dinheiro, perder a saúde, perder a coragem. Porém ninguém perde aquilo que nunca teve. Perde-se tudo. Menos a humildade e a dignidade.
            Portanto viver em favelas e áreas de risco é literalmente estar em uma linha tênue de correr o risco de não ser ninguém e consequentemente, viver em uma terra de ninguém. E quantos “ninguéns” são enterrados como indigentes diariamente.
            O mundo não anda tão diferente. Onde ninguém tem direito de sonhar e quiçá ser feliz. Ninguém ama ninguém, ninguém se importa com ninguém. Assim votamos em ninguém, pois ninguém vai mudar nada mesmo. Porém ainda insisto em escrever, mesmo sabendo correr o risco de ninguém ler.
Joey é escritor autodidata.

            

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